Episódio 040. Sal Rosa do Himalaia e cálculos renais: seu uso reduz mesmo o risco de uma cólica renal?
O tema desse episódio do Podcast é o Sal Rosa do Himalaia, questionando se seu uso reduz mesmo o risco de cólica renal. Discutimos ainda como o consumo de sódio (sal) pode impactar seu organismo na formação de cálculos renais. De forma bem completa, passamos pela lista de alimentos ricos em sódio que muitas vezes consumimos em excesso sem perceber. Vejo isso diariamente em meus pacientes e foi o motivo de gravação dessa sessão.
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Nesse episódio sobre o sal rosa do Himalaia abordamos:
– O mito da ingesta de cálcio como risco à formação de cálculos renais
Muitos acreditam que o cálcio seria um grande vilão na formação de cálculos renais. Isso surgiu basicamente porque mais de 80% dos cálculos possuem cálcio em sua composição, a maioria deles de oxalato de cálcio (saiba mais lendo este texto de meu blog). Isso seria verdade ou um mito? Será que diminuir o consumo de alimentos ricos em cálcio se traduz em menor formação de cálculos de rim?
A resposta não é óbvia. E muitos especialistas acabam orientando de forma equivocada seus pacientes. Infelizmente acontece e vemos isso todos os dias. “Pare de beber leite, e pare de comer queijo” – dizem alguns médicos, inclusive já ouvi de urologistas. Vamos ao estudo do metabolismo que nos trará a resposta.
Ao consumirmos cálcio, ele se une ao oxalato presente no trato intestinal e é eliminado junto com ele pois esse conjunto se torna inabsorvível pelo intestino. Por outro lado, o oxalato livre já presente no intestino, se não tiver o cálcio para se ligar, é absorvido ao sangue e deste é filtrado e eliminado na urina. Ou seja, se consumimos cálcio, a consequência final é menos oxalato na urina. Se consumimos menos cálcio, há maior excreção de oxalato na urina.
Acontece que esse oxalato que está na urina é muito carente. Ele ama o cálcio. E se junto à qualquer partícula de cálcio na urina, mesmo que o cálcio esteja em menor concentração nesse local. Assim surgem cálculos de oxalato de cálcio. Ou seja, em resumo, na maior parte das pessoas, se você restringir a ingesta de cálcio, o risco de formação de cálculos de oxalato de cálcio aumenta.
Isso já foi comprovado cientificamente, não é apenas uma suposição. Logicamente, isso não significa que devemos comer cálcio em excesso. A recomendação atual é do consumo de 1,2g de cálcio diariamente. Isso equivaleria a 2 copos e meio de leite de cabra, ou 3 copos de iogurte natural, ou 4 copos de leite. Mesclar a dieta é o segredo.
– O que o sódio tem a ver com as pedras renais de cálcio?
O rim não permite que nosso sódio aumente no sangue de forma significativa. Para manter esse equilíbrio, ele excreta todo o excesso de sódio na urina. Para fazer isso, entretanto, ele usa em suas células uma bomba que ao mesmo tempo que leva o sódio para os túbulos coletores da urina, leva junto o cálcio, pois essa bomba não funciona de outra forma.
Assim, quanto mais sal (sódio) comemos, mais sódio e cálcio sai em nossa urina. Ficou claro?
– O brasileiro está comendo muito sal?
Sim! O recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é a ingesta diária de 3 a 5g de sódio. Para os formadores de cálculo renal, esse número seria de 2 a 3g. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde 2013 (PNS/IBGE), o consumo de sal do brasileiro excede em quase 2 a 3 vezes o limite máximo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), sendo a média nacional de 9,3 gramas. Apesar disso, apenas 12% dos brasileiros adultos tem a consciência da alta ingestão de sal na alimentação diária.
Além dos cálculos renais, o consumo excessivo do sal está relacionado ao aumento do risco / agravamento de doenças crônicas, como hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, doenças renais, etc. (leia mais aqui)
– Como saber se o sal realmente é um problema em meu caso?
Isso é bem simples. Basta fazer um exame de avaliação metabólica com urina de 24 horas e dosagem de sódio. Nosso organismo não produz sódio. Assim, se estiver em excesso na urina, é porque estamos consumindo em quantidade exagerada, mesmo sem perceber.
– Onde está o sódio na alimentação de hoje em dia?
Dados recentes sugerem que apenas em torno de 50% do sódio que consumimos está no sal que usamos do saleiro e para cozinhar. A maioria do sódio que ingerimos hoje em dia já vem em alimentos industrializados, ultraprocessados, etc. (leia mais aqui)
Para interesse geral, deixo aqui uma lista de alimentos que pode te surpreender na quantidade de sódio:
Mostarda, 100 g, 1135 mg
Ketchup, 100 g, 907 mg
Macarrão instantâneo de galinha, 1 pacote, 85 g, 1951 mg
Macarrão instantâneo de carne em copo; 1 unidade, 64 g, 1859 mg
Lasanha congelada à bolonhesa, 1/2 unidade, 325 g, 1734 mg
Caldo de carne, 1/2 cubo, 4,5 g, 987 mg
Caldo de galinha, 1/2 cubo, 4,5 g, 979 mg
Frango à milanesa recheado congelado, 1 unidade, 130 g, 789 mg
Nuggets de frango, 5 unidades, 130 g, 742 mg
Hambúrguer de carne, 1 e 1/2 unidade, 80 g, 583 mg
Queijo parmesão, 1 fatia, 30 g, 553 mg
Frango à passarinho congelado, 2 e 1/2 unidades, 100 g, 324 mg
Pão francês, 1 unidade, 50 g, 320 mg
Extrato de tomate pronto, 3 col. de sopa, 60 g, 316 mg
Batata palha, 1 xícara, 50 g, 262 mg
Bolacha de grãos integrais, 7 unidades, 30 g, 255 mg
Bisnaguinha, 2 e 1/2 unidades, 50 g, 239 mg
Pão de fôrma integral, 2 fatias, 50 g, 234 mg
Bolacha salgada de queijo, 3 unidades, 25 g, 226 mg
Bolacha água e sal, 7 unidades, 30 g, 223 mg
Pão de fôrma, 2 fatias, 50 g, 150 mg
Leite integral, 1 copo, 200 ml, 130 mg
Leite desnatado, 1 copo, 200 ml, 130 mg
Queijo ralado, 1 col. de sopa, 10 g, 100 mg
Bolacha recheada de chocolate, 3 unidades, 30 g, 100 mg
– Mas e o sal rosa do Himalaia, é melhor que o sal branco?
Depende. Veja a tabela abaixo:
Tipo |
Características |
Quantidade de sódio |
Sal refinado, sal comum ou de cozinha |
Pobre em micronutrientes, contém aditivos químicos e, por lei, é adicionado de iodo para combater a deficiência deste mineral importante que é útil para a formação de hormônios da tireóide. |
400mg por 1g de sal |
Sal líquido |
É o sal refinado diluído em água mineral. |
11mg por cada jato |
Sal light |
Possui 50% menos sódio |
197 mg por 1g de sal |
Sal grosso |
É mais saudável porque não é refinado. |
400mg por 1g de sal |
Sal marinho |
Não é refinado e tem mais minerais que o sal comum. Pode ser encontrado grosso, fino ou em flocos. |
420 mg por 1g de sal |
Flor de sal |
Contém aproximadamente 10% a mais de sódio que o sal comum, por isso não é indicado aos hipertensos. |
450mg por 1g de sal. |
Sal rosa do Himalaia |
Extraído das montanhas do Himalaia e tem origem marinha. É considerado o mais puro dos sais. Contém muitos minerais, como cálcio, magnésio, potássio, cobre e ferro. Seu uso é indicado para hipertensos. |
230mg por 1g de sal (quase 400mg por 1g de sal em outras referências) |
Enquanto o sal branco refinado tem 40% de sódio, o do Himalaia tem 23%. Entretanto, devo ressaltar que outras referências citam o sal cosa como contendo 398mg de sódio, o que seria praticamente igual ao branco. O sal com menor teor de sódio é o light, com 19% de sódio apenas.
De qualquer forma, tomem cuidado em não exagerar nos sais diferenciados por acharem que por não ser o branco lhe dão segurança. Se a quantidade for alta, o problema é o mesmo.
– Maneiras práticas de restringir o sal na comida
- Retirar o saleiro da mesa;
- Não colocar sal na comida sem antes experimentar;
- Trocar o sal branco pelo light ou o rosa;
- Evitar consumir alimentos industrializados e ultraprocessados;
- Evitar consumir alimentos em conserva ou frios em excesso;
- Não usar molhos prontos ou caldo de galinha ou sazon ou ajinomoto ou glutamato monossódico ao cozinhar;
- Use sempre uma colher de café para adicionar o sal;
- Substituir o sal por temperos naturais, como cebola, alho, salsa, cebolinha, orégano, coentro, limão e hortelã;
- Tenha o costume de ler rótulos: o sódio costuma ser o último ou penúltimo item; se a quantidade de sódio medida para a porção avaliada for maior que 150mg, consuma pouco ou não consuma; ainda, se a quantidade de sódio for maior que a de calorias, evite o consumo.
Ouça o episódio e aprenda mais!
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