Sangramento na Urina (Hematúria) e a relação com o câncer de bexiga: a importância do diagnóstico rápido e tratamento precoce para alcançar a cura
Neste artigo discuto amplamente sobre o tema hematúria, que é o nome técnico para sangramento na urina. Abordo todos as formas de sangramento e possíveis causas, assim como o raciocínio de investigação, com destaque para o diagnóstico precoce de um câncer de bexiga, visando a cura.
O que é hematúria e quando devo me preocupar?
Hematúria consiste na presença anormal de eritrócitos / hemácias (células sanguíneas) na urina. É classicamente dividida em MACROSCÓPICA (visível ao olho humano) ou MICROSCÓPICA (detectada em exames de urina).
A Hematúria é geralmente um sinal clínico importante, sendo muitas vezes a única evidência de doença do trato urinário. Enquanto nos pacientes com hematúrica macroscópica 80% das vezes encontramos um problema urológico significativo, apenas 20% dos pacientes portadores de hematúria microscópica apresentam alguma afecção urológica que requer tratamento. De qualquer forma, sempre deve ser investigada.
O sangue que é identificado na urina pode ter origem em qualquer local da via urinária, desde a uretra, passando pela bexiga, pelos ureteres até os rins.
O tipo de sangramento me ajuda no raciocínio diagnóstico?
Sim! A hematúria também pode ser classificada clinicamente como:
– Inicial, quando aparece no início da urina (o sangramento geralmente proveniente da uretra, geralmente)
– Terminal, quando identificada ao final da micção (mais provável que o sangramento seja do colo da bexiga ou na porção posterior da uretra)
– Total, quando o sangramento persiste em todo o jato urinário, do início ao fim (aqui o sangramento geralmente é proveniente da bexiga ou trato urinário alto – ureter ou rim).
Também podemos classificar a Hematúria em sintomática ou assintomática: na primeira, o conjunto de sinais e sintomas que acompanha o sangramento permite, em muitos casos, estabelecer uma hipótese diagnóstica; já na segunda, a inexistência de qualquer outra manifestação clínica costuma oferecer dificuldade na identificação da condição etiológica.
É importante ressaltar que a suspeita de Hematúria macroscópica deve sempre ser confirmada por exame de sedimento urinário, uma vez que diversas condições podem produzir urina avermelhada sem a presença de eritrócitos (veja na tabela abaixo).
Condições que podem imitar sangramento na urina (hematúria)
Heme positivo
- Hemoglobinúria: Hemólise; Sepse; Diálise
- Mioglobinúria: cetoacidose; miosite; trauma
Heme negativo
- Drogas: sulfas; nitrofurantoína
- Alimentos: beterraba, corantes
As principais causas da presença de sangue na urina são:
- Infecção Urinária;
- Glomerulonefrite;
- Pedra nos rins;
- Anemia falciforme;
- Uretrite;
- Endometriose;
- Hiperplasia Prostática Benigna (HPB)
- Ferida pequenas oriunda pelo uso se sonda vesical ou biópsia da próstata ou renal;
- Uso de medicamentos;
- Câncer: de rim, próstata ou bexiga.
Em quem devemos nos preocupar mais?
Em algumas situações, devemos ter maior liberdade na investigação diagnóstica devido ao maior risco de doenças significativas. São elas:
- Tabagismo
- Exposição ocupacional a agentes químicos ou corantes
- História de Hematúria grosseria macroscópica prévia
- Idade > 40 anos
- Sintomas urinários irritativos
- História de infecção do trato urinário
- Abuso de analgésicos
- História de irradiação pélvica prévia
Principais exames diagnósticos:
- Urina tipo I com pesquisa de dismorfismo eritrocitário (para diferenciar sangramento do rim do sangramento da via urinária em si)
- Urocultura com antibograma
- Citologia oncótica urinária (pesquisa de células tumorais da urina)
- Exame de imagem: USG vs. TC vs. RNm vs. Urografia; Hoje em dia a tomografia de abdome e pelve com contraste é o exame padrão-ouro na investigação de hematúria, seja ela micro ou macroscópica)
- Cistoscopia “armada” (que significa olhar dentro da bexiga com um aparelho especial; caso encontremos algo suspeito, realiza-se já a ressecção dessa lesão)
Se quiser ouvir e aprender mais sobre hematúria em detalhes, ouça nosso episódio de podcast sobre o tema em:
O Câncer de Bexiga
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), 90% dos pacientes diagnosticados com câncer de bexiga estão na faixa etária acima dos 55 anos. De forma geral, a chance dos homens terem câncer de bexiga é de cerca de 1 em 27, enquanto para as mulheres é de cerca de 1 em 89. É o urologista que trata de tal doença tanto em homens como em mulheres.
O câncer de bexiga é uma doença silenciosa, que na fase inicial evolui sem apresentar sinais e sintomas. Mas, com o passar do tempo e com a progressão do carcinoma, podem surgir alguns sintomas como:
- Presença de sangue na urina, resultante do rompimento de vasos sanguíneos no interior da massa tumoral ou da própria mucosa da bexiga;
- A irritação da bexiga pode ser manifestada por sensação de ardor, urgência e vontade incontrolável de urinar;
- Em casos mais avançados podem surgir dores pélvicas, dor ou sangramento retal resultante da infiltração do reto, e inchaço das pernas provocado por comprometimento dos linfonodos pélvicos;
As opções de tratamento vão depender do grau de evolução da doença. Por isso é importante efetuar um checkup sempre para manter a sua saúde! Não deixe de procurar o seu médico!
Se o diagnóstico é feito na fase inicial, o tratamento endoscópico pelo canal da urina pode resolver o problema sem necessidade de cirurgias maiores. Chamamos isso de ressecção trans-uretral de bexiga (RTU de bexiga); 80% dos tumores de bexiga permitem esse tratamento pois são descobertos em fase inicial;
De maneira geral, para leigos, costumo dizer o seguinte: a depender do resultado de anatomia patológica encontrado na ressecção descrita acima, que demonstra o tipo histológico do tumor (se presente mesmo), a agressividade celular, e o grau de invasão na parede da bexiga, prossegue-se com:
– Nova cistoscopia com nova RTU de bexiga em casos de tumores superficiais não invasivos e de baixo grau de agressividade;
– Nova RTU de bexiga com sequencial instilação em consultório de vacina de BCG dentro da bexiga, para tumores não invasivos da parede, mas maiores ou de alto grau de agressividade.
– Tratamento mais agressivo com retirada total da bexiga e seus gânglios adjacentes (por técnica convencional ou robótica), chamada de cistectomia radical com linfadenectomia, em casos de tumores invasivos da parede da bexiga, ou tumores maiores de alto grau e recidivantes. Em doentes sem condições cirúrgicas, um protocolo de quimioterapia + radioterapia pode ser utilizado no lugar da cirurgia.
Já de início, cerca de 20% dos casos já se apresentam com invasão da bexiga por demora no diagnóstico e/ou agressividade tumoral com rápido crescimento, obrigando o tratamento descrito acima em poucas semanas do diagnóstico inicial.
Ressalta-se que a cada ano temos novas drogas quimioterápicas com maior eficácia mesmo para tumores agressivos e metastáticos. Mesmo assim, trata-se de um tratamento de controle da doença, e não de cura. Por isso, a ênfase na importância do diagnóstico precoce, com potencialização da cura através da cirurgia.
➡ Não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje pela sua saúde!
📌 Dúvidas? Entre em contato através do WhatsApp ou e-mail
Dr. Giovanni Marchini – CRM-SP 124.952
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