Este texto foi criado para esclarecer algumas dúvidas e combater mitos à respeito do consumo de cálcio e risco à formação de pedra no rim (cálculos renais). Não será focado em sintomas ou tratamento cirúrgico, mas sim em investigação diagnóstica e dieta. Se procura algo sobre tratamento cirúrgico, acesse este link (clique aqui).
Contexto
Ouço com frequência no consultório que pacientes tiveram seu cálculo analisado e o mesmo era de Oxalato de Cálcio. Com essa informação, sem adequado aconselhamento médico (ou com aconselhamento equivocado, como já presenciei mais de uma vez, infelizmente), o paciente para de comer alimentos com cálcio.
Isso é um erro comum de mudança alimentar após a cólica renal e a descoberta de um cálculo de oxalato de cálcio. E estou aqui para explicar a vocês o motivo. Mas não vou parar aí, vou além. Quero conversar com vocês a respeito do oxalato e do sódio em nossa dieta ok? Eles sim podem ser maiores fatores impactantes para a formação dos cálculos renais.
De que se formam os cálculos renais?
Basicamente, existem quatro tipos de cálculos renais, sendo eles:
-Cálculos de cálcio (80-90%): pode combinar-se com outras substâncias como oxalato de cálcio e fosfato de cálcio. São os cálculos mais comuns.
-Cálculos de estruvita (1-2%): são chamados de cálculos coraliformes e estão associados às bactérias que causam infecção do trato urinário.
-Cálculos de ácido úrico (5-10%): ocorrem com dietas ricas em purinas (carnes, frutos do mar e cevada) e uma doença chamada Gota.
-Cálculos de cistina (1-2%): pode surgir em pacientes que têm cistinúria, doença renal e hereditária.
Você deve ter em mente que o cálculo é a consequência final de um complexo distúrbio ou desbalanço de eletrólitos do metabolismo renal. Mandar um cálculo para análise, na maior parte das vezes (pois 80% das vezes ele virá de oxalato de cálcio), não nos trará respostas da origem dos cálculos.
Como descubro a origem de minha formação dos cálculos renais?
O exame que traz essas respostas se chama AVALIAÇÃO METABÓLICA COMPLETA. Trata-se de um exame de sangue, urina simples, e urina de 24 horas no qual solicitamos a análise de todos os fatores séricos e urinários relacionados à formação de cálculo renal.
Com esse exame em mãos, avaliamos causas mais raras (hormonais, genéticas – leia mais sobre isso aqui) e rotineiras (de hidratação, dieta, comportamento) que aumentam o risco de desenvolver um cálculo renal. Logicamente, mandamos a pedra coletada para análise, mas como descrito acima, ela só nos ajuda quando vem de um tipo raro.
Se eu parar de comer cálcio, diminuo as chances de desenvolver pedra no rim?
A ingesta de cálcio aumenta o risco de desenvolver pedra no rim? Pergunta frequente no consultório do urologista. Já perguntou isso ao seu médico? Cerca de 80% dos cálculos renais são de cálcio, a maioria deles de oxalato de cálcio. Então será que diminuir o consumo de alimentos ricos em cálcio se traduz em menor formação de cálculos de rim?
A resposta não é óbvia. E muitos especialistas acabam orientando de forma equivocada seus pacientes. Infelizmente acontece e vemos isso todos os dias. Vamos ao estudo do metabolismo que nos trará a resposta. Ao consumirmos cálcio, ele se une ao oxalato presente no trato intestinal e é eliminado junto às vezes pois se torna não absorvível pelo intestino. Por outro lado, o oxalato livre já presente no intestino, se não tiver o cálcio para se ligar, é absorvido ao sangue e deste é filtrado e eliminado na urina.
Acontece que esse oxalato que está na urina é muito carente. Ele ama o cálcio. E se junto à qualquer partícula de cálcio na urina, mesmo que o cálcio esteja em menor concentração. Assim surgem cálculos de oxalato de cálcio. Ou seja, em resumo, na maior parte das pessoas, se você restringir a ingesta de cálcio, o risco de formação de cálculos de oxalato de cálcio aumenta. Isso já foi comprovado cientificamente, não é apenas uma suposição.
E o sódio, qual a relação com o risco de pedra no rim?
Para informações completas sobre ingesta de sal, dicas de alimentos e formas de diminuir seu consumo, não deixe de acessar este episódio de meu podcast (clique aqui).
O excesso de sal faz mal não só para o rim, mas também está associado em alguns trabalhos populacionais (discutíveis) ao aumento da pressão arterial e risco cardio-vascular. Ao ingerirmos sódio, ele não pode oscilar de forma importante em nosso sangue. Por esse motivo, o rim controla muito de perto seus níveis séricos, excretando na urina qualquer excesso que poderia nos colocar em risco de vida.
A eliminação de sódio na urina é acompanhada pela de cálcio, aumentando os riscos para esse tipo de cálculo. A célula do rim não consegue jogar o sal para a urina sem jogar o cálcio junto. Por isso, quanto mais sal comentos, mais sal e cálcio sai na urina. Por isso, o consumo excessivo de sódio efetivamente aumenta o risco de cálculos renais de cálcio.
O ideal é usar pouco sal já no preparo da comida, e não só depois ao temperá-la. A quantidade ideal diária de sódio é de até 2400mg para quem é formador de cálculos renais. lembrando que o sal de mesa tem 40% de sódio, e que hoje me dia grande fonte de sódio são produtos industrializados, embutidos, molhos prontos, e frios.
Fiquei sabendo que alimentos com oxalato aumentos risco de pedra no rim. Isso é verdade?
Parcialmente verdade. Existem vários tipos de cálculo renal, sendo mais comum os compostos por oxalato de cálcio. Mas será que o excesso de consumo de alimentos ricos em oxalatos ou cálcio favorece o aparecimento desse tipo de pedra?
Seria o correto restringir tais alimentos? Vejo na prática de consultório muitos pacientes que, seguindo a orientação de amigos, conhecidos, ou mesmo de profissionais de saúde (infelizmente), restringem o cálcio e o oxalato na dieta. E isso é um equívoco! Temos que lembrar que nosso corpo precisa de tais substâncias e que alimentos ricos em cálcio (ex: queijo branco) ou oxalato (ex: verduras verdes escuras; tomate) são saudáveis. Adianta parar isso e comer um pacote de bolacha? Não né!
Mas então quando devo realmente diminuir ou tirar tais alimentos do prato? No caso do cálcio, apenas quando ficar comprovado que há aumento na excreção urinária de cálcio e ela tem origem na alimentação, o que não é das causas mais comuns de elevação de cálcio na urina. Já o oxalato raramente vem alto na urina de 24 horas. Caso venha, aí sim está indicada a procura pelo vilão rico em oxalato na dieta. Tudo se baseia na avaliação metabólica completa do sangue e urina!
Se tenho pedras de oxalato de cálcio e o oxalato veio alto na urina de 24 horas, o que devo diminuir na alimentação? Nesse caso, é importante evitar alimentos ricos em oxalato como espinafre e outras verduras verdes ESCURAS, morango, beterraba, chocolate, café, tomate, soja e oleaginosos como castanhas ou nozes.
Além da alimentação, outra dica é utilizar probióticos com a bactéria Oxalobacter formigenes, que ajuda a quebrar os cristais de oxalato de cálcio e que deve ser tomada de acordo com a orientação médica.
Tratamento Geral e Específico dos Cálculos Renais
Antes de termos a avaliação metabólica completa em mãos e a análise do cálculo renal, podemos já iniciar uma orientação que chamo de GERAL aos pacientes. Tais medidas foram criadas devido à alta frequência que alguns distúrbios são identificados no exame de urina de 24 horas.
Podemos dividir a orientação Geral em 4 medidas:
1- A maneira mais barata, simples e prática de evitar a formação de cálculos renais é manter a hidratação suficiente para que o débito urinário em 24 horas seja maior que 2 litros. Portanto, deve-se ingerir mais de 2 litros de líquidos por dia. Para fins práticos, um copo de tamanho normal contém de 200 a 250mL de líquido. Muitas frutas (ex: melancia, melão) e alimentos (sorvete, gelatina, pudim) têm água. Mas o ideal é que se tome muita água e sucos naturais, principalmente de limão e laranja. Evite refrigerantes e sucos que contenham muito oxalato ou sódio (ex: frutas vermelhas). Ouça este episódio do podcast sobre isso (clique aqui).
2- Os sucos cítricos de limão e laranja merecem destaque pelo fato de terem altas concentrações de citrato, que eliminados na urina tum como importante inibidor da agregação do cálcio, diminuindo o ritmo de formação dos cálculos de oxalato e fosfato de cálcio.
3- Diminuição na ingesta de sódio (comentei acima)
4- Evitar exagero no consumo de proteínas, com atenção especial à carne vermelha. A quantidade ideal diária para formadores de cálculo renal são 2 porções de 90-100g (tamanho de um maço de cartas) de frango, carne ou peixe. O controle da ingesta de proteínas é indicado também em pessoas com problemas no fígado, como hepatite ou cirrose. Diminuir o consumo de proteína também auxilia no controle do consumo de sódio. A carne vermelha é a que mais deve ser evitada, enquanto a carne branca pode ser ingerida, mas em quantidade razoável, sem excesso. Tenho um episódio de podcast sobre isso, clique aqui e ouça mais.
Já a Orientação específica, dependerá do exame de urina de 24 horas. Este deve sempre ser solicitado pelo urologista quando os cálculos atingem ambos os rins, em crianças, em casos recorrentes, nos casos de cálculos metabólicos, entre outros.
Esse exame vai guiar o tratamento e a prevenção e o especialista indicará o melhor caminho a ser seguido. Ele ajuda no delineamento de medidas específicas para o metabolismo de cada um, deixando o tratamento mais direcionado e particularizado. Tira a dúvida do que está levando à formação das pedras. E comprovadamente diminui a longo prazo o risco de recidiva.
Alguns links potencialmente de seu interesse:
– Diagnóstico e Tratamento Geral dos Cálculos Renais
– Parâmetros Efetivos de Hidratação: Por Onde Devo me Basear?
– Dicas: Como Tornar a Hidratação um Hábito em Sua Vida
– Cálculo de Oxalato de Cálcio: como evitar a recorrência
– Sal Rosa do Himalaia e Dicas Sobre Ingesta de Sal e Os Cálculos Renais
➡ Não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje pela sua saúde!
📌Dúvidas? Entre em contato através do WhatsApp ou e-mail
Dr. Giovanni Marchini – CRM-SP 124.952
Gostou deste post? Compartilhe na rede social de sua preferência.
[DISPLAY_ULTIMATE_SOCIAL_ICONS]
Receba nossa newsletter para se manter atualizado em temas de Saúde…
Leia mais sobre outros temas interessantes…
- Curiosidades em Urologia
- Doenças e Tratamentos
- Motivacional e Produtividade
- Novidades em Saúde
- Podcast – temas diversos